Publicado por Novo Jornal
em 01 de Março de 2013
Para
quem hoje em dia conta com seis caminhões, pelo menos mil refletores e gera
cerca de 60 empregos diretos e indiretos, melhor seria ignorar os tempos em que
precisou contar moedas para o ônibus e no trabalho utilizava nada mais do que
três refletores, duas extensões e um “T”. No entanto, Marcos Evangelista Casado
dos Santos, 50, mantém os dois pés no chão. Ele sabe que o seu sucesso não veio
com a velocidade da luz com a qual ilumina hoje os palcos da vida e do mundo da
arte, e por isso valoriza o aprendizado do passado.
Antes de se especializar em iluminação de eventos e atuar por trás dos refletores, ele também pisou nos palcos como protagonista da cena artística. Ainda criança, tocou em grupo musical; na juventude, interpretou peças no teatro, trabalhando na companhia de Jesiel Figueiredo, quando despertou, de fato, para a sua real aptidão; já como iluminador, o maior reconhecimento veio quando recebeu um convite para viajar com o circo do ator Marcos Frota.
Antes de se especializar em iluminação de eventos e atuar por trás dos refletores, ele também pisou nos palcos como protagonista da cena artística. Ainda criança, tocou em grupo musical; na juventude, interpretou peças no teatro, trabalhando na companhia de Jesiel Figueiredo, quando despertou, de fato, para a sua real aptidão; já como iluminador, o maior reconhecimento veio quando recebeu um convite para viajar com o circo do ator Marcos Frota.
Foto: Fábio Cortez/NJ.
Castelo Casado, hoje empresário,
comanda grupo que gera cerca de 60 empregos diretos e indiretos
Sua estreia nos palcos, digamos assim, aconteceu
também num circo, em Macau, onde nasceu, distante 175 km de Natal. Foi no final
da década de 60, quando Castelo resolveu montar uma banda com seu irmão Dedé, o
mais novo entre os quatro. “The Shines”, formado somente por crianças, inovava
também nos instrumentos: a guitarra era de madeira e a bateria feita com latas
de querosene.
“A gente sempre foi muito pra frente, tocávamos Secos & Molhados e uma banda chamada A Casa das Máquinas. Quando ensaiávamos, lá no quintal de casa, era uma festa; todos os vizinhos iam ver”, lembra enquanto mexe no seu IPAD à procura de fotos antigas.
O primeiro contato com a arte foi tão forte que, quando a família se mudou para a capital, em 1978, por causa da aprovação do irmão mais velho no curso de Geologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (na época denominada ETFERN), Castelo começou a fazer teatro, ingressando na companhia de um grande nome na área, Jesiel Figueiredo.
“Para a gente, que é do interior, entrar na ETFRN naquela época era a mesma coisa que passar para a UFRN”, explica. E mesmo quando chegou a sua vez de deixar a família orgulhosa, sendo aprovado no curso de Eletrotécnica na ETFERN, não largou o teatro. O conhecimento que adquiria em sala de aula, ele fazia questão de levar para os palcos, já que sempre ficava responsável também pela iluminação e efeitos especiais, como o que preparou para a peça “Aladim, o Herói da Lâmpada”.
“Eu criei um curto circuito para na hora em que o Aladim fosse mexer na lâmpada, o gênio saísse da abertura que tinha na ponta do palco do Teatro Alberto Maranhão. Imagine aquele cheiro forte de pólvora, aquela fumaça preta e o ator ainda ter que sair do meio disso tudo”, lembra Castelo com uma risada nostálgica de quem ainda olha para o passado com felicidade.
“Aquela sim era uma época boa. A cultura local acontecia de verdade porque todo mundo queria que a cidade crescesse. Existia o Festival de Artes de Natal, no Forte dos Reis Magos e era simplesmente lindo. Diferente de hoje em dia, que as pessoas só querem correr atrás de lei de incentivo, deixando a arte no geral para trás”, critica.
Em 1982, segundo conta, os trabalhos ficaram ainda mais intensos para a companhia de teatro da qual fazia parte, com a possibilidade de uma casa própria para os espetáculos. “No começo dos anos 80 começou uma grande crise dos cinemas nacionais e aqui em Natal o Cine Old fechou as portas. Os padres, que eram donos do cinema, ofereceram o espaço para Jesiel e nós abrimos o Teatro Jesiel Figueiredo”, explica.
A possibilidade não se viabilizou tão rapidamente, já que ninguém na companhia tinha dinheiro para a manutenção do teatro, mas a força de vontade acabou unindo mais ainda todos nós. “Tinha muita gente boa comigo, Gilberto Sérgio, Costa Filho, Chico Vilar... Acho que todo mundo que teve o privilégio de ser dirigido por Jesiel sabe do que eu tô falando. A própria Titina Medeiros também foi da última turma”, lembra.
A companhia sempre estava em cartaz com uma peça infantil e uma adulta. Para divulgar as do primeiro grupo, eles se vestiam como os personagens e faziam panfletagem nas escolas e pelos sinais de Natal, um dos mais frequentados era o da Avenida Prudente de Morais com a Avenida Bernardo Vieira.
“As pessoas nos incentivavam demais, e ajudavam bastante nas nossas campanhas de doação de roupa para montar os figurinos dos espetáculos. Apesar de amar estar em cena, eu sempre senti que a iluminação me instigava mais”, comenta.
O
SINAL para a mudança“A gente sempre foi muito pra frente, tocávamos Secos & Molhados e uma banda chamada A Casa das Máquinas. Quando ensaiávamos, lá no quintal de casa, era uma festa; todos os vizinhos iam ver”, lembra enquanto mexe no seu IPAD à procura de fotos antigas.
O primeiro contato com a arte foi tão forte que, quando a família se mudou para a capital, em 1978, por causa da aprovação do irmão mais velho no curso de Geologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (na época denominada ETFERN), Castelo começou a fazer teatro, ingressando na companhia de um grande nome na área, Jesiel Figueiredo.
“Para a gente, que é do interior, entrar na ETFRN naquela época era a mesma coisa que passar para a UFRN”, explica. E mesmo quando chegou a sua vez de deixar a família orgulhosa, sendo aprovado no curso de Eletrotécnica na ETFERN, não largou o teatro. O conhecimento que adquiria em sala de aula, ele fazia questão de levar para os palcos, já que sempre ficava responsável também pela iluminação e efeitos especiais, como o que preparou para a peça “Aladim, o Herói da Lâmpada”.
“Eu criei um curto circuito para na hora em que o Aladim fosse mexer na lâmpada, o gênio saísse da abertura que tinha na ponta do palco do Teatro Alberto Maranhão. Imagine aquele cheiro forte de pólvora, aquela fumaça preta e o ator ainda ter que sair do meio disso tudo”, lembra Castelo com uma risada nostálgica de quem ainda olha para o passado com felicidade.
“Aquela sim era uma época boa. A cultura local acontecia de verdade porque todo mundo queria que a cidade crescesse. Existia o Festival de Artes de Natal, no Forte dos Reis Magos e era simplesmente lindo. Diferente de hoje em dia, que as pessoas só querem correr atrás de lei de incentivo, deixando a arte no geral para trás”, critica.
Em 1982, segundo conta, os trabalhos ficaram ainda mais intensos para a companhia de teatro da qual fazia parte, com a possibilidade de uma casa própria para os espetáculos. “No começo dos anos 80 começou uma grande crise dos cinemas nacionais e aqui em Natal o Cine Old fechou as portas. Os padres, que eram donos do cinema, ofereceram o espaço para Jesiel e nós abrimos o Teatro Jesiel Figueiredo”, explica.
A possibilidade não se viabilizou tão rapidamente, já que ninguém na companhia tinha dinheiro para a manutenção do teatro, mas a força de vontade acabou unindo mais ainda todos nós. “Tinha muita gente boa comigo, Gilberto Sérgio, Costa Filho, Chico Vilar... Acho que todo mundo que teve o privilégio de ser dirigido por Jesiel sabe do que eu tô falando. A própria Titina Medeiros também foi da última turma”, lembra.
A companhia sempre estava em cartaz com uma peça infantil e uma adulta. Para divulgar as do primeiro grupo, eles se vestiam como os personagens e faziam panfletagem nas escolas e pelos sinais de Natal, um dos mais frequentados era o da Avenida Prudente de Morais com a Avenida Bernardo Vieira.
“As pessoas nos incentivavam demais, e ajudavam bastante nas nossas campanhas de doação de roupa para montar os figurinos dos espetáculos. Apesar de amar estar em cena, eu sempre senti que a iluminação me instigava mais”, comenta.
O seu último ano de teatro foi em 1986. A companhia estava com dois espetáculos em cartaz, “A Branca de Neve e os Sete Anões”, e “O Santo e a Porca”, de Ariano Suassuna, quando de repente aconteceu o chamado definitivo para Castelo passar para trás dos refletores.
O primeiro incidente aconteceu durante a apresentação de “A Branca de Neve”, quando metade da iluminação do teatro apagou, e, com isso, Castelo, que interpretava o Atchim, perdeu a concentração no texto. “Tinha uma cena que todos os anões saiam pelo meio das crianças e eu aproveitei a deixa para correr para os bastidores e a fim de ajeitar a luz. As crianças perceberam e começaram a gritar ‘tá faltando um’; aí Jesiel me jogou em cena de novo”, lembra.
À noite, com a apresentação de “O Santo e a Porca”, o mesmo problema se repetiu no meio de uma cena. “E aí eu comecei a me desesperar porque não podia continuar a cena sem a luz adequada e Jesiel, percebendo, começou a falar pelo canto da boca para “eu não sair do palco”; e ele segurou o texto até eu retomar o roteiro”, lembra imitando os diálogos da época pelo canto da boca. Mais tarde, conversando com Jesiel, ele decidiu que iria sair da companhia e começar a trabalhar definitivamente com iluminação.
Foi então que Castelo começou a ser convidado por amigos para fazer a iluminação de shows, peças e mostras de arte. Entre eles estavam o grupo de teatro “Nuvem Verde”, de onde saiu também a performática banda “Gato Lúdico”. “Uma das que mais gostava de iluminar também era a Alcatéia Maldita, do grande Raul (líder da banda). Eles são o Rolling Stones daqui”, brinca.
Turnês pelo país com Marcos Frota
O
primeiro convite importante veio dos atores Marco Nanini e Bia Nunes, que
estavam de passagem por Natal com a peça “Doce Deleite” e não tinham um
iluminador. “Foi o primeiro contato mais sério que tive. Fizemos Natal e alguns
lugares do Nordeste, mas como eu tenho o cordão umbilical curto, corri para cá
com pouco tempo”, recorda.
Já
no final dos anos 80, o desafio foi ainda maior: o ator Marcos Frota convidou
Castelo Casado para montar a iluminação do “Grande Circo Popular do Brasil”,
hoje mais conhecido como “Marcos Frota Circo Show”. A viagem durou dois anos
por todo o país, e Castelo acabou tendo contato com diversos outros
iluminadores brasileiros.
“Todo dinheiro que ia juntando com o Circo, eu mandava diretamente para cá, para comprar novos equipamentos na empresa”, lembra contando ainda que, quando saiu em turnê com o circo, ele havia acabado de montar a “Castelo Casado Iluminações”.
“Era muito difícil vender meu peixe porque ninguém podia ver o que era uma empresa de iluminação. “Mas vocês vão mexer na luz da rua?”, as pessoas me perguntavam. Hoje em dia não, eu posso mostrar com fotos e filmagens, por exemplo, todos os tipos de trabalho que podemos oferecer”, observa.
Naquela época, Castelo conta ainda que havia pouquíssimos iluminadores no país e que, a partir dele, a cena começou a se proliferar em Natal. “Assim que terminei o curso de Eletrotécnica, a Petrobrás me ofereceu um emprego, mas eu recusei para continuar no teatro e então comecei a trabalhar na Cosern. Devo muito a ela também, porque durante o período em que estive lá, eles investiram nos funcionários. Fiz muitos cursos de capacitação na área”, retoma.
“Todo dinheiro que ia juntando com o Circo, eu mandava diretamente para cá, para comprar novos equipamentos na empresa”, lembra contando ainda que, quando saiu em turnê com o circo, ele havia acabado de montar a “Castelo Casado Iluminações”.
“Era muito difícil vender meu peixe porque ninguém podia ver o que era uma empresa de iluminação. “Mas vocês vão mexer na luz da rua?”, as pessoas me perguntavam. Hoje em dia não, eu posso mostrar com fotos e filmagens, por exemplo, todos os tipos de trabalho que podemos oferecer”, observa.
Naquela época, Castelo conta ainda que havia pouquíssimos iluminadores no país e que, a partir dele, a cena começou a se proliferar em Natal. “Assim que terminei o curso de Eletrotécnica, a Petrobrás me ofereceu um emprego, mas eu recusei para continuar no teatro e então comecei a trabalhar na Cosern. Devo muito a ela também, porque durante o período em que estive lá, eles investiram nos funcionários. Fiz muitos cursos de capacitação na área”, retoma.
Negócio
familiar
A
empresa que surgiu basicamente para iluminar projetos artísticos, começou a
trabalhar com eventos em geral somente no final dos anos 2000, quando Castelo
Casado precisou se afastar temporariamente dos negócios e seu sobrinho, Thiego
Casado, entrou para o negócio da família. “É sangue novo, sabe como é, aí
abrimos mais a visão da empresa”, justifica.
Somente em dezembro do ano passado foram mais de 100 eventos, a maioria casamentos, e nove réveillons pelo Estado. “A minha grande história é iluminar, com os outros irmãos eu deixo todo o resto; a parte comercial e a administrativa. Hoje, tudo aqui é dividido por setor”, diz.
Mesmo com o crescimento da empresa, o que ele não previa, Castelo nunca deixou de ajudar pequenos grupos de teatro. “Não precisa ser através de lei de incentivo, na conversa mesmo. A gente tenta achar uma solução para ajudar os pequenos grupos que estão começando ou até eventos menores de algumas associações, como o GAAC (Grupo de Apoio a Criança com Câncer)”, garante.
Para estar em contato com o que tem de mais moderno no mercado, Castelo faz questão de estar conectado 24h com outros iluminadores do país e também de comparecer a feiras internacionais. “O último agora foi na China e Thiego nos representou. A palavra de ordem hoje em dia é LED, que você pode alterar da forma que quiser, muito embora esse tipo de iluminação ainda não consiga atingir o brilho de uma ‘Par 64’, as mais tradicionais”, avalia.
Um sonho
Somente em dezembro do ano passado foram mais de 100 eventos, a maioria casamentos, e nove réveillons pelo Estado. “A minha grande história é iluminar, com os outros irmãos eu deixo todo o resto; a parte comercial e a administrativa. Hoje, tudo aqui é dividido por setor”, diz.
Mesmo com o crescimento da empresa, o que ele não previa, Castelo nunca deixou de ajudar pequenos grupos de teatro. “Não precisa ser através de lei de incentivo, na conversa mesmo. A gente tenta achar uma solução para ajudar os pequenos grupos que estão começando ou até eventos menores de algumas associações, como o GAAC (Grupo de Apoio a Criança com Câncer)”, garante.
Para estar em contato com o que tem de mais moderno no mercado, Castelo faz questão de estar conectado 24h com outros iluminadores do país e também de comparecer a feiras internacionais. “O último agora foi na China e Thiego nos representou. A palavra de ordem hoje em dia é LED, que você pode alterar da forma que quiser, muito embora esse tipo de iluminação ainda não consiga atingir o brilho de uma ‘Par 64’, as mais tradicionais”, avalia.
Um sonho
E
embora tenha considerado um dos maiores desafios da carreira a iluminação para
o Circo de Beijing, quando o grupo se apresentou no extinto Machadinho, há
alguns anos, o seu maior sonho ainda é sair em grande turnê com algum artista
potiguar reconhecido e aclamado pelo público nacional.
“Saímos com muitos de fora, mas não é a mesma coisa. O difícil é ter essa pessoa daqui porque a classe é desunida. Já vimos em Recife, por exemplo, o Mangue Beat se tornar nacional; em Salvador, o Axé; no Ceará tem o Massafeira; Minas com O Clube da Esquina.... Quero que um dia aqui tenha algo parecido”, diz.
Todos os dias, religiosamente, Castelo acorda cedo e sai de casa para o trabalho fazendo questão de vestir a farda da empresa, com emblemas tanto nas camisas quanto nas calças jeans. “E quando estou com uma camisa normal, eu coloco um adesivo que já carrego no carro. Juro”, conta o iluminador aos risos.
“A iluminação ganhou muito com a tecnologia. Hoje você pode aprofundar espaços, cenas, somente com a iluminação. Passou a ser um item obrigatório e a acrescentar demais aos eventos. Para mim, a iluminação é tudo; ela me veste, me alimenta, ela é minha vida”, conclui.
“Saímos com muitos de fora, mas não é a mesma coisa. O difícil é ter essa pessoa daqui porque a classe é desunida. Já vimos em Recife, por exemplo, o Mangue Beat se tornar nacional; em Salvador, o Axé; no Ceará tem o Massafeira; Minas com O Clube da Esquina.... Quero que um dia aqui tenha algo parecido”, diz.
Todos os dias, religiosamente, Castelo acorda cedo e sai de casa para o trabalho fazendo questão de vestir a farda da empresa, com emblemas tanto nas camisas quanto nas calças jeans. “E quando estou com uma camisa normal, eu coloco um adesivo que já carrego no carro. Juro”, conta o iluminador aos risos.
“A iluminação ganhou muito com a tecnologia. Hoje você pode aprofundar espaços, cenas, somente com a iluminação. Passou a ser um item obrigatório e a acrescentar demais aos eventos. Para mim, a iluminação é tudo; ela me veste, me alimenta, ela é minha vida”, conclui.
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